O recente rompimento da Jaguar com a agência responsável por seu reposicionamento de marca gerou uma onda de debates sobre branding, identidade e coerência estratégica. Este artigo examina os elementos dessa crise, contextualizando o episódio dentro das práticas contemporâneas de gestão de marca, com respaldo teórico e histórico.
O reposicionamento da Jaguar: da tradição à ruptura
O nascimento de uma campanha polêmica
Logo no início de 2025, a Jaguar lançou uma nova campanha global intitulada “Copy Nothing“. A proposta visava modernizar a imagem da montadora britânica, destacando sua transição para uma linha 100% elétrica até 2025. O reposicionamento visual incluiu a remoção do felino icônico do logotipo, tipografias minimalistas e uma paleta cromática vibrante, distante do tradicional preto e prateado que marcava a herança da marca.
A recepção do público e o backlash digital
A reação do público não tardou. Críticos e consumidores acusaram a marca de abandonar sua essência. Comentários apontavam uma desconexão entre o histórico da Jaguar — sinônimo de sofisticação, potência e tradição britânica — e a estética apresentada na nova identidade. Redes sociais e veículos especializados repercutiram intensamente as críticas.
O rompimento: decisões estratégicas em tempos de crise
O anúncio do desligamento
Menos de três meses após o lançamento da campanha, a Jaguar anunciou o rompimento com a agência responsável. A justificativa oficial foi “a necessidade de reavaliar a estratégia criativa global”. A medida, embora drástica, evidenciou a sensibilidade da marca em responder às críticas e tentar mitigar os danos à sua reputação.
A busca por nova direção criativa
Desde então, a Jaguar iniciou um processo de seleção para uma nova agência que seja capaz de alinhar inovação e tradição. O objetivo é claro: construir uma comunicação que abrace a eletrificação e a sustentabilidade sem alienar a base histórica de clientes e admiradores.
Lições de branding: entre a ousadia e a identidade
A importância da coerência histórica
Segundo Philip B. Meggs, no clássico “História do Design Gráfico”, as marcas que perduram são aquelas que conseguem inovar preservando um fio condutor com seu passado. A Jaguar, ao eliminar completamente os símbolos que a tornaram icônica, falhou em criar essa ponte entre o passado e o futuro.
A crítica como feedback estratégico
Autores como Seth Godin defendem que marcas relevantes são aquelas que escutam. A reação negativa à campanha, embora inicialmente vista como fracasso, deve ser interpretada como um radar de sensibilidade cultural e simbólica. A escuta ativa pode salvar reputações.
A gestão simbólica da marca
Segundo Adrian Frutiger em “Sinais e Símbolos”, o símbolo é a ponte entre o tangível e o intangível. Ao abdicar de seu felino icônico, a Jaguar removeu um elo simbólico que carregava significados como força, elegância e exclusividade — valores essenciais à marca.

Estudos de caso e paralelos históricos
Tropicália e a identidade múltipla
O movimento Tropicália, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, também rompeu com tradições, mas sem abandonar suas raízes culturais. O sucesso da Tropicália mostra que é possível ser disruptivo mantendo vínculos simbólicos com a origem.
O reposicionamento da Burberry
A Burberry, outra marca britânica tradicional, enfrentou desafio semelhante ao reposicionar sua marca para atrair públicos mais jovens. A diferença crucial foi o equilíbrio entre inovação estética e manutenção de elementos-chave da identidade visual.
A perspectiva acadêmica: branding como construção cultural
De acordo com Rafael Cardoso, o design gráfico não é apenas estética, mas sim uma linguagem cultural que comunica valores e identidade. O caso da Jaguar ilustra como uma marca pode falhar quando desconsidera o contexto cultural em que está inserida.
Ellen Lupton, em “Novos Fundamentos em Design”, reforça que o design precisa considerar não apenas as formas, mas os significados que elas evocam. Nesse sentido, o design da nova Jaguar pecou pela forma sem conteúdo cultural consistente.

Caminhos para o futuro da Jaguar
Reintegração de elementos clássicos
Um caminho possível para a Jaguar é retomar elementos visuais e simbólicos consagrados, adaptando-os à estética contemporânea. Isso pode incluir o retorno do felino em uma versão estilizada, que dialogue com o futuro elétrico da marca.
Co-criação com o público
Uma estratégia relevante seria envolver a comunidade de admiradores da marca no processo de redefinição da identidade. Isso gera engajamento e fortalece os laços emocionais entre marca e público.
Clareza estratégica no storytelling
Marcas fortes contam histórias coerentes. O futuro da Jaguar depende da capacidade de criar uma narrativa onde tradição e inovação não se excluam, mas se complementem.
O rompimento entre a Jaguar e sua agência após a campanha “Copy Nothing” é mais do que um episódio de gestão de crise. É um estudo de caso sobre a importância do alinhamento entre identidade, comunicação e percepção pública. A lição é clara: inovar sim, mas com respeito às raízes simbólicas da marca. Para as marcas do século XXI, a identidade é um patrimônio que deve ser continuamente atualizado, sem jamais ser descartado.
Dúvidas Frequentes
Por que a Jaguar rompeu com sua agência?
Devido à repercussão negativa da campanha “Copy Nothing”, considerada distante da identidade histórica da marca.
O que foi criticado na nova campanha?
A ausência de carros, a substituição do logotipo do felino e a nova paleta de cores vibrantes.
A Jaguar manterá sua estratégia de eletrificação?
Sim. A empresa segue com o plano de se tornar totalmente elétrica até 2025.
Quais lições esse caso traz para o branding?
Importância da coerência histórica, escuta ativa do público e construção simbólica consciente.
A Jaguar já escolheu nova agência?
Até o momento, a marca está em processo de seleção para uma nova parceira criativa.