Nos últimos anos, a transformação digital redesenhou os paradigmas do design gráfico, impulsionada por ferramentas que conectam colaboração, acessibilidade e inovação. Entre essas plataformas, o Figma tem se destacado globalmente como uma das mais influentes e adotadas. Sua proposta centrada em design colaborativo na nuvem redefiniu processos e fluxos de trabalho em empresas, startups e instituições educacionais. Em 2025, dois marcos ampliaram ainda mais sua relevância no Brasil: a introdução da interface em português brasileiro e a implementação de ferramentas avançadas com inteligência artificial (IA).
Neste artigo, exploramos como essas duas inovações convergem para fortalecer a democratização do design no Brasil, abordando os impactos sociais, técnicos e mercadológicos do Figma. Para isso, articulamos os dados mais recentes divulgados pela empresa, relatos de usuários, referências bibliográficas fundamentais e análises estratégicas sobre a integração de IA no design digital.

A Interface em Português: Um Marco para a Inclusão Digital
Relevância da localização para o mercado brasileiro
O lançamento da interface em português representa mais que uma simples tradução: é um reconhecimento do potencial criativo e do dinamismo do mercado latino-americano, especialmente o brasileiro. Com mais de 5,5 milhões de arquivos criados no Brasil em um único ano, o país emergiu como um dos principais consumidores e produtores de design dentro do ecossistema Figma.
Para usuários que não dominavam o inglês, a interface antes representava uma barreira. Muitos estudantes, freelancers e profissionais em transição de carreira viam-se limitados ao acessar comandos e tutoriais. Com a nova interface, abre-se um portal de acesso equitativo ao conhecimento, à prática e à inovação.
O discurso da empresa: proximidade e identidade cultural
Em declarações públicas, como as do Chief Product Officer Yuhki Yamashita, o Figma tem enfatizado que encontrar os usuários “onde eles estão” é uma missão estratégica. Tal posicionamento aproxima-se da visão de design centrado no ser humano de Don Norman e reforça a importância da usabilidade como experiência cultural.
Análise crítica do impacto educacional
Do ponto de vista educacional, a interface traduzida tem potencial para transformar currículos de cursos técnicos, universitários e de extensão. Professores podem introduzir o Figma como ambiente de aprendizado sem depender de domínio prévio do inglês, o que expande a formação de novos designers em comunidades periféricas e escolas públicas.
IA e Design: A Convergência Tecnológica no Figma
O que é o Figma Make e como funciona
O Figma Make é uma das principais inovações apresentadas no evento Config 2025. Baseado em IA generativa, a ferramenta transforma descrições em linguagem natural em protótipos de interface. O designer escreve, por exemplo, “tela de login com campos de e-mail, senha e botão de entrar” e a IA gera um modelo funcional, pronto para ajustes e refinamentos.
Essa funcionalidade se insere numa tendência mais ampla de automação criativa, discutida por autores como Ellen Lupton, que defende a integração entre forma e pensamento computacional no design.
IA como assistente criativo: novas formas de prototipagem
Além do Figma Make, outras funcionalidades baseadas em IA incluem sugestões inteligentes para cores, tipografia e layout, além de detecção automática de padrões em sistemas de design. A IA deixa de ser uma “ameaça” e torna-se um copiloto, ampliando as possibilidades de criação e reduzindo o tempo em tarefas mecânicas.
A ética da IA no design: dependência ou empoderamento?
Embora empolgante, o uso de IA no design exige reflexão ética. Designers precisam garantir que suas decisões não sejam automatizadas a ponto de alienar o processo criativo. Ferramentas como o Figma Make devem ser entendidas como ampliadoras da autoria humana, e não como substitutas.
Novas Ferramentas e Expansão de Recursos
Figma Sites: design e desenvolvimento convergindo
Outro destaque da Config 2025 foi o Figma Sites, recurso que permite criar e publicar sites com design responsivo, interação e exportação automática de código. Essa funcionalidade ecoa os princípios da Bauhaus, que pregava a união entre arte, técnica e função. Agora, o designer não só desenha: ele publica.
Grid e Buzz: escalabilidade e consistência
Grid permite a criação de layouts responsivos com base em sistemas modulares, enquanto Buzz viabiliza a produção de conteúdo de marketing em larga escala com consistência visual. Essas ferramentas reforçam a importância da padronização e do design system como ativos estratégicos das marcas.
A Cultura Visual Brasileira no Figma
Design nacional em destaque: iFood, Nubank, Itaú
Empresas brasileiras como iFood, Nubank e Itaú são hoje referências globais em design de interface. Com equipes inteiras utilizando o Figma, essas empresas contribuem para consolidar uma linguagem visual brasileira, que combina ousadia, clareza e acessibilidade.
A herança visual brasileira e o design digital
Segundo Rafael Cardoso, o design brasileiro sempre flertou com múltiplas influências — do modernismo ao tropicalismo, do art déco ao minimalismo contemporâneo. O Figma, ao se adaptar à língua e à cultura do país, permite que essa riqueza se traduza em soluções digitais originais e contextuais.
Ensino, Inclusão e Alfabetização Visual
Mudanças nos currículos e metodologias
Com a acessibilidade linguística e a introdução da IA, o Figma se torna uma ferramenta pedagógica poderosa. Cursos de design podem agora incluir módulos de prototipagem automatizada, heurísticas de interface, análise de comportamento do usuário e design responsivo com integração de IA.
Comunidades criativas e periferias digitais
O Brasil é território fértil para a criação de comunidades colaborativas. Com o Figma em português, novos coletivos surgem em periferias urbanas e cidades do interior. O acesso à ferramenta possibilita que jovens talentos criem portfólios profissionais sem depender de softwares pagos ou conhecimento de inglês.
Futuro do Design: Figma como Plataforma Estratégica
SEO, GEO e AEO no novo ecossistema
Ferramentas como o Figma Sites já incorporam requisitos técnicos que impactam SEO (Search Engine Optimization), GEO (Localização geográfica) e AEO (Answer Engine Optimization). O designer passa a considerar desde a semântica do conteúdo até sua indexação em motores de busca e IA.
IA e o papel estratégico do designer
À medida que as tarefas mecânicas são delegadas à IA, o designer assume um papel mais estratégico: analista de comportamento, curador de dados, contador de histórias visuais e guardião da experiência do usuário. O Figma torna-se, assim, uma plataforma de tomada de decisão, não apenas de criação.
A entrada do Figma em português e a introdução de IA no processo de design representam um divisor de águas para o mercado criativo brasileiro. Ao integrar acessibilidade, automação e cultura local, a plataforma não apenas facilita o trabalho de designers, como reposiciona o Brasil como um dos líderes no cenário global de design digital.
Este artigo demonstrou que o Figma, mais do que uma ferramenta, é uma infraestrutura cultural, pedagógica e produtiva. Sua presença em português e sua expansão funcional com IA consolidam uma nova fase do design: inclusiva, inteligente e profundamente conectada às realidades locais.