A Copa do Mundo FIFA de 2026 marcará um novo capítulo na história do futebol, sendo a primeira edição a ser realizada em três países — Estados Unidos, Canadá e México — e a contar com 48 seleções participantes. Além das inovações no formato e na logística, a FIFA introduziu uma abordagem inédita na identidade visual do torneio: a criação de pôsteres oficiais para cada uma das 16 cidades-sede, celebrando a diversidade cultural e artística de cada localidade.
Esses pôsteres foram concebidos por artistas locais, que incorporaram elementos emblemáticos de suas cidades, mesclando referências culturais, históricas e esportivas. A iniciativa visa não apenas promover o torneio, mas também fortalecer o vínculo entre o evento e as comunidades anfitriãs, refletindo o espírito e a paixão pelo futebol presentes em cada região.
A seguir, apresentamos uma análise gráfica detalhada de cada um dos 16 pôsteres das cidades-sede da Copa do Mundo de 2026:
Estados Unidos
1. Atlanta
O pôster de Atlanta, criado por Jose Hadathy, apresenta uma cena de celebração sob uma copa de árvores que remete ao teto retrátil do Mercedes-Benz Stadium. A composição simboliza a inclusão e o progresso da cidade, incorporando elementos como pêssegos, em referência ao apelido do estado da Geórgia, “Peach State”.
A obra destaca a diversidade cultural de Atlanta, representando a cidade como um espaço acolhedor e vibrante. A escolha de cores e elementos visuais reforça a identidade única da cidade no contexto do torneio.

2. Boston
O pôster de Boston, desenvolvido por John Rego em colaboração com a Massachusetts College of Art and Design, retrata uma cena subaquática com uma lagosta gigante atuando como goleira. A arte homenageia a tradição marítima da cidade e seu famoso crustáceo.
A abordagem surreal e lúdica do pôster reflete a criatividade e o espírito inovador de Boston, destacando-se como uma representação única entre os pôsteres das cidades-sede.

3. Dallas
O artista Matt Cliff retratou Dallas com um caubói realizando uma bicicleta, vestindo chapéu e botas típicas, sobre um fundo nas cores vermelho, branco e azul. A imagem celebra a herança ocidental da cidade e sua paixão pelo futebol.
A combinação de elementos tradicionais e esportivos no pôster de Dallas destaca a identidade texana da cidade, criando uma conexão entre o passado cultural e o presente esportivo.

4. Houston
O pôster de Houston, assinado por Stephanie Leal, exibe um astronauta jogando futebol com um chapéu de caubói, diante do skyline da cidade. A obra faz alusão ao Centro Espacial Johnson da NASA, localizado em Houston, e incorpora detalhes como a braçadeira de capitão inspirada na bandeira da cidade.
A fusão de elementos espaciais e culturais no pôster de Houston reflete a inovação e a diversidade da cidade, destacando sua importância no cenário científico e esportivo.

5. Kansas City
A artista Jadie Arnett criou um pôster que representa torcedores atravessando campos de girassóis e a ponte Christopher S. Bond, rumo ao estádio local. A composição evoca o espírito comunitário e a paixão pelo futebol presentes na cidade.
O pôster de Kansas City destaca a conexão entre a cidade e seus habitantes, enfatizando a importância do futebol como elemento unificador e celebrando a cultura local.

6. Los Angeles
O pôster de Los Angeles, desenvolvido por Thieb Delaporte-Richard, vencedor de um concurso local, apresenta uma bola de futebol sendo chutada em direção ao pôr do sol da cidade, capturando a energia vibrante e diversificada de LA.
A representação do pôster reflete a atmosfera dinâmica e multicultural de Los Angeles, destacando a cidade como um centro de entretenimento e inovação.

7. Miami
A arte de Rubem Robierb para Miami exibe uma cena de praia com um flamingo rosa usando meias de futebol, cercado por torcedores em adoração a uma bola flutuante. As cores neon refletem a atmosfera vibrante e festiva da cidade.
O pôster de Miami captura a essência tropical e animada da cidade, combinando elementos culturais e esportivos em uma representação visual cativante.

8. New York / New Jersey
O pôster desta região destaca a Estátua da Liberdade segurando uma bola de futebol, com o horizonte de Manhattan ao fundo, simbolizando a união entre tradição e modernidade.
A imagem ressalta a importância histórica e cultural de Nova York e Nova Jersey, posicionando a região como um ícone global no contexto da Copa do Mundo.

9. Philadelphia
Nicholas McClintock incorporou marcos históricos como o Liberty Bell, o Philadelphia Museum of Art e a Prefeitura no pôster da cidade, refletindo sua rica herança cultural.
O pôster de Philadelphia destaca a cidade como berço da independência americana, conectando sua história significativa ao evento esportivo internacional.

10. San Francisco Bay Area
O pôster apresenta a icônica Golden Gate Bridge com uma bola de futebol em destaque, representando a conexão entre a cidade e o esporte.
A imagem simboliza a inovação e a beleza natural da região da Baía de São Francisco, destacando sua importância como sede da Copa do Mundo.

11. Seattle
Seattle optou por uma representação de uma orca, símbolo da cidade, interagindo com uma bola de futebol, destacando a relação da cidade com a vida marinha e o esporte.
O pôster de Seattle enfatiza a conexão entre a natureza e a cultura urbana, refletindo a identidade única da cidade no cenário da Copa do Mundo.

México
12. Cidade do México
O artista Mario Cortés, conhecido como Cuemanche, criou um pôster vibrante que inclui o Estádio Azteca, o Palácio de Bellas Artes, o Anjo da Independência, além de elementos culturais como um luchador e um trompo de pastor.
A composição celebra a rica herança cultural da Cidade do México, destacando sua importância histórica e contemporânea no contexto do futebol.

13. Guadalajara
Também por Cuemanche, o pôster de Guadalajara destaca a música mariachi, a charrería e o tequila, com referências arquitetônicas locais como a Basílica de Zapopan.
A arte reflete a vibrante cultura de Guadalajara, enfatizando suas tradições e contribuições para a identidade mexicana.

14. Monterrey
O pôster de Monterrey, igualmente criado por Cuemanche, apresenta o Cerro de la Silla, uma parrillada e elementos da fauna local, como ursos e veados, celebrando a cultura e a natureza da região.
A imagem destaca a conexão de Monterrey com seu ambiente natural e suas tradições culinárias, posicionando a cidade como uma anfitriã acolhedora para a Copa do Mundo.

Canadá
15. Toronto
O pôster de Toronto incorpora elementos como a CN Tower e o skyline da cidade, refletindo sua modernidade e diversidade cultural. A arte destaca Toronto como uma metrópole vibrante e multicultural, pronta para receber o mundo durante o torneio.

16. Vancouver
Vancouver optou por uma arte que destaca a beleza natural da região, com montanhas e o oceano, além de influências da arte indígena local.
O pôster enfatiza a harmonia entre a natureza e a cultura em Vancouver, refletindo seu compromisso com a preservação ambiental e a celebração da diversidade.

A série de pôsteres das cidades-sede da Copa do Mundo FIFA 2026 representa um marco simbólico e comunicacional não apenas para o design gráfico contemporâneo, mas também para a maneira como grandes eventos esportivos internacionais se aproximam das comunidades que os acolhem. Trata-se de um exercício sofisticado de branding territorial, identidade visual coletiva e comunicação intercultural, no qual cada peça é um microcosmo artístico que articula valores locais e universais sob a égide do futebol.
Sob a perspectiva histórica, podemos entender essa coleção à luz da tradição dos cartazes culturais, muito explorada desde o século XIX com o advento da litografia – como documentado por Philip B. Meggs em História do Design Gráfico. Assim como Toulouse-Lautrec captava a efervescência parisiense com traços fluidos e cores chapadas, ou A. M. Cassandre articulava tipografia e formas geométricas na Era Art Déco, os artistas da Copa 2026 atualizam esse legado com recursos digitais, ilustrações vetoriais e paletas cromáticas ousadas, sem abdicar de simbolismos e narrativas locais.
Esses pôsteres, por meio de metáforas visuais, tornam-se poderosos instrumentos de design experiencial. Como propõe Don Norman em sua abordagem sobre design emocional, os elementos que despertam pertencimento, reconhecimento e orgulho são essenciais para que a comunicação visual transcenda o estético e atue no afetivo. Em Atlanta, por exemplo, a copa das árvores transformada em estádio celebra inclusão e orgulho regional; em Seattle, a orca que interage com a bola é ao mesmo tempo símbolo ecológico e ícone urbano.
É evidente que a orientação criativa da FIFA buscou valorizar a identidade gráfica de cada cidade com base em atributos distintivos: arquitetura emblemática, fauna, costumes, gastronomia e histórias locais. Essa estratégia dialoga com os princípios de “design centrado no usuário”, aplicando-os no escopo territorial – as cidades são tratadas como protagonistas narrativas, e o design assume o papel de tradutor simbólico dessas identidades.
A tipologia visual dos pôsteres é eclética, e isso é proposital. Temos composições mais figurativas e narrativas, como as de Monterrey e Cidade do México, que lembram pôsteres culturais dos anos 80 e 90, enquanto outras investem em síntese e abstração, como o caso de Toronto e Los Angeles. Essa diversidade estética respeita os contextos criativos de cada localidade, além de enriquecer o acervo imagético do evento, promovendo uma descentralização visual importante. Em vez de impor uma unidade formal rígida, a FIFA permitiu que a multiplicidade cultural se expressasse sem amarras.
Do ponto de vista técnico e de linguagem visual, os pôsteres também demonstram maturidade gráfica. Segundo Donis A. Dondis, no clássico Sintaxe da Linguagem Visual, o domínio das categorias básicas – ponto, linha, plano, cor, forma e textura – é fundamental para a criação de mensagens visuais eficazes. No caso desses cartazes, observamos a aplicação consciente desses elementos: o uso simbólico das cores locais, a composição equilibrada, a hierarquia informativa clara e o emprego da forma como veículo de narrativa.
A função simbólica do design, discutida por Bernd Löbach e outros teóricos, é essencial para compreender a profundidade dessas peças. Cada pôster transcende a função informativa e publicitária. Eles não apenas divulgam um evento, mas representam o ethos de suas cidades. A lagosta-goleira de Boston não é apenas um delírio visual, mas uma ancoragem semiótica potente, que liga tradição pesqueira, senso de humor e irreverência cultural. O astronauta-caubói de Houston resume a tensão e o fascínio entre inovação espacial e identidade texana. Já o flamingo neon de Miami acena para o kitsch tropical e a exuberância visual da cidade.
Sob o ponto de vista da produção gráfica, conforme discute André Villas-Boas em Produção Gráfica para Designers, as composições revelam domínio técnico: tratam-se de ilustrações vetoriais de alta resolução, perfeitamente adaptáveis a múltiplos formatos – cartazes, redes sociais, merchandising. A linguagem digital-first está presente, o que também demonstra uma adaptação da cultura do cartaz para os meios contemporâneos.
Outro aspecto relevante é o uso estratégico da iconografia. Adrian Frutiger, em Sinais e Símbolos, destaca que todo símbolo eficaz depende de familiaridade e legibilidade. Os pôsteres se aproveitam dessa lógica ao incorporar elementos como a Estátua da Liberdade, a Golden Gate Bridge, o skyline de Toronto, o sombrero charro ou a CN Tower – ícones que dispensam legenda, sendo reconhecíveis em qualquer parte do mundo.
O projeto gráfico, nesse sentido, atua como ferramenta de diplomacia cultural e marketing territorial. As cidades-sede não apenas se tornam locais de jogos, mas assumem o papel de anfitriãs culturais, sendo apresentadas ao público global como destinos únicos e memoráveis. Essa lógica, como aponta José Roberto Martins em Branding – O Manual, potencializa o valor da marca-cidade e insere a experiência esportiva no ciclo mais amplo da experiência turística e cultural.
O que se observa, portanto, é uma confluência entre design, cultura, comunicação e urbanidade. Os pôsteres não são apenas imagens bonitas, mas sim artefatos de identidade – criados para serem compartilhados, colecionados, memorizados. Eles despertam emoções e associações, servindo tanto como memória afetiva do evento quanto como ícones permanentes de branding local.
Outro ponto notável está na abordagem colaborativa com artistas locais. Em tempos de inteligência artificial generativa, esse retorno ao protagonismo do artista humano – com suas visões particulares e repertórios culturais – é um posicionamento ético e criativo. Valoriza-se a autoria, a singularidade, a interpretação cultural. Trata-se, também, de uma escolha política: descentralizar a produção simbólica, evitando um visual genérico e homogêneo, como tantas vezes acontece em eventos globais padronizados.
A iniciativa da FIFA com os pôsteres de 2026 abre precedentes para uma nova abordagem nos projetos gráficos de eventos internacionais. É uma resposta inteligente à crítica recorrente da pasteurização visual nas campanhas corporativas. Aqui, ao contrário, vemos pluralidade, afeto, pertencimento. É como se cada cartaz dissesse: “a Copa é nossa, mas esta é a nossa cidade”.
Por fim, do ponto de vista do ensino do design gráfico, esses pôsteres oferecem um material didático exemplar. São ótimos casos para estudar cor, composição, narrativa visual, função simbólica, produção gráfica e estratégia de marca. São também exemplos de como o design pode atuar como mediador cultural, integrando tradição e inovação, local e global, o popular e o técnico.
Portanto, os pôsteres das cidades-sede da Copa do Mundo FIFA 2026 não são apenas peças promocionais. Eles são sínteses visuais de identidades complexas, expressões gráficas de orgulho coletivo, manifestações culturais legitimadas em escala internacional. São também provas de que, quando bem orientado, o design gráfico tem o poder de emocionar, educar, representar e conectar – reafirmando seu papel vital na construção de experiências memoráveis e de narrativas que atravessam fronteiras.
Dúvidas Frequentes
Quantas cidades-sede terão jogos na Copa do Mundo de 2026?
Serão 16 cidades-sede distribuídas entre Estados Unidos, Canadá e México.
Onde posso ver todos os pôsteres oficiais?
Os pôsteres estão disponíveis no site oficial da FIFA: fifa.com.
Qual é o objetivo dos pôsteres individuais?
Celebrar a identidade cultural de cada cidade-sede e fortalecer o vínculo entre o torneio e as comunidades locais.
Os pôsteres estarão à venda?
Sim, a FIFA disponibilizará os pôsteres para compra através de sua loja oficial.